A psicanálise surge no final do século XIX, idealizada e sistematizada enquanto teoria e técnica pelo médico neurologista Sigmund Freud, que continua a desenvolvê-la até a sua morte em 1939.
A partir do contato com as pacientes histéricas (em sua maioria mulheres) que apresentavam sintomas físicos como paralisias sem causas biológicas justificáveis, Freud passa a se questionar a respeito das causas desses fenômenos. Essas mulheres já eram tratadas por médicos da época, como Charcot, com quem Freud estudou. Porém, ainda não existia uma explicação científica para o adoecimento e uma das únicas formas de tratamento era a hipnose.
Freud vê a necessidade de escutar o que as histéricas tinham a dizer sobre si e sobre seu adoecimento, ou seja, ele começa a construir uma clínica da escuta, que passa a priorizar, mas não excluir a interioridade à exterioridade. Assim, se inicia a criação do método da associação livre, onde o paciente seria convidado a dizer tudo o que viria a sua cabeça sem se censurar.
Freud busca iniciar então, a partir da escuta dessas mulheres, o desenvolvimento de um modelo de aparelho mental universal que não seria regido pela consciência, mas sim pelo inconsciente e suas manifestações.
Qual a diferença da Psicanálise para as outras abordagens da Psicologia?
Dentro da Psicologia existem diversas teorias e técnicas para o tratamento das questões subjetivas, sendo a psicanálise uma delas. Segundo minha ótica, a psicologia surge após a criação da psicanálise pois, até então, ela era majoritariamente a forma de se entender e tratar os fenômenos psíquicos. Porém, com o avanço das ciências, outros estudiosos da mente e comportamento humano surgem e desenvolvem outras formas de compreensão.
Existem muitas diferenças entre as teorias e, em minha opinião, o que mais diferencia a psicanálise das demais é a especificidade de trabalhar com a existência de um aspecto inconsciente de nossa mente que influencia diretamente nossas ações e nossa forma de estar no mundo. O inconsciente é algo absolutamente singular, formado a partir das nossas primeiras relações da infância com as primeiras figuras de cuidado na interação com a cultura.
Em forma de imagens e sensações todos os nossos desejos e experiências estão presentes nos processos inconscientes. Esses conteúdos que nos habitam são poucas vezes apreendidos pela consciência devido ao mecanismo de recalque, que tem a função de proteção do aparelho psíquico contra conteúdos inconscientes que possam trazer algum tipo de desprazer. Entretanto, o fato de não ser possível num primeiro momento trazer à consciência esses conteúdos e manifestações inconscientes não impede que essas atravessem o tempo todo nossas ações e sentimentos.
Com o reconhecimento da existência do inconsciente, a psicanálise cria um modelo bastante específico e particular para o aparelho psíquico, ou seja, cria um modelo de como nossa mente funciona. E esse modelo é a grande diferença para as outras linhas e abordagens da Psicologia. A partir desse modelo é que se criam as técnicas de tratamento utilizadas na análise pelo analista. Conclui-se então, que as diferenças estão na forma como o profissional entende os fenômenos psíquicos e que técnicas ele utiliza para tratá-los.
Qual o objetivo do processo analítico?
Análise é como as psicanalistas chamam o processo de psicoterapia feita sob o entendimento psicanalítico.
O objetivo desse método é o de construção de novas narrativas para situações vividas com sofrimento, ou seja, mais do que procurar a causa inconsciente de algum sofrimento ou sintoma, buscamos ressignificar esses, criando sentidos, desconstruindo e construindo novas formas de vivenciar a situação traumática.
Para isso, entendemos o processo analítico de uma forma totalmente autoral, não havendo fórmulas prontas ou regras específicas a serem seguidas. Já que temos a convicção de que o inconsciente e os sentidos dados a esses conteúdos são absolutamente singulares, somos todos diferentes e únicos. Assim, analista e analisando têm a tarefa de construir juntos um caminho novo.
Como é uma sessão de psicanálise?
Mesmo dentro da teoria psicanalítica, existem diferentes linhas a se seguir. Isso acontece, pois teorias pós Freudianas seguiram estudando e aprimorando a Psicanálise, inclusive estudando fenômenos que o próprio Freud não pôde desenvolver. Mas de maneira geral, todas as psicanalistas, independente da linha teórica que seguem, irão partir dos aspectos que descrevi até o momento.
Sendo assim, o processo de análise é composto em sua maioria por uma sessão semanal de 50 minutos, podendo variar de acordo com a necessidade de cada sujeito. Durante essa sessão não existem regras pré-estabelecidas, apenas o compromisso do analisando de falar sobre os conteúdos que vêm à sua cabeça de forma livre (associação livre). A partir disso, o analista poderá auxiliar na construção de novos sentidos por meio de observações e do acolhimento do sofrimento. É estabelecida uma parceria e um vínculo de confiança entre ambos, através da transferência.
O que eu devo esperar?
Esse ponto é bastante importante, pois é essencial que o analisando possa falar de suas expectativas em relação ao processo analítico, inclusive para que algumas ideias possam ser esclarecidas.
Não haverá por parte do analista respostas prontas e indicações diretas de como cada sujeito deve lidar com seu sofrimento ou sua questão, o analista não dá conselho. Além de esse não ser o papel da análise, esse comportamento estaria indo contra a posição de que o processo deve ser autoral, ou seja, particular de cada um, gerador de autonomia.
O que é feito é proporcionar por parte do analista um ambiente seguro, acolhedor, sigiloso, sem julgamentos e imposições que permita que o paciente possa depositar seus pensamentos, medos, desejos e pensar sobre eles. O analista oferece a escuta qualificada, pois tem o conhecimento teórico e prático mencionado acima e é treinado para tal papel.
A análise leva o indivíduo à conquista de forma duradoura do autoconhecimento, do empoderamento de si e da transformação através da constante construção de novos sentidos para as situações vivenciadas no passado e no presente, de forma a deslocar o sujeito de sua condição impotente diante da sua vida.
Na análise então, o protagonista é o analisando, de forma que a atenção do analista estará inteiramente voltada a você e esse será o seu espaço de escuta!
Acredito ser de máxima importância salientar que esse texto não tem o objetivo de promover a teoria psicanalítica como a melhor teoria dentro da Psicologia. O intuito é de fornecer algumas ideias que ajudem o leitor a se preparar e escolher a profissional e o tipo de trabalho que gostaria de desenvolver.
Minha posição é a de que todas as abordagens teóricas da psicologia trazem resultados. O que está em jogo é a expectativa de quem procura terapia e a forma como se sente mais confortável.
Porém, durante a sessão, o que deve ser realmente observado e considerado é se existe empatia e se é possível construir um vínculo de confiança com aquele profissional, porque essa é a base de qualquer processo psicoterapêutico, independente da abordagem utilizada pelo psicoterapeuta.
Amanda Hauck, psicóloga Mente Amiga